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a casa é quando a gente volta | Ana Costa Ribeiro | Ateliê da Imagem | 3 fev a 7 abr



“Uma casa é as ruínas de uma casa”, escreveu o poeta português Antonio Manuel Pina, em um verso cuja sintaxe provoca certa desorientação, confundindo presente e futuro, dentro e fora, de modo não muito distante do que se passa numa fita de Moebius. Em A casa é quando a gente volta, Ana Costa Ribeiro provoca desorientações semelhantes, torcendo tempo e espaço, nos oferecendo paisagens, arquivos, baleias e trovões. Esse é o espaço da casa para a artista – espaço-membrana, delimitado pelas negociações entre o familiar e o público, entre desaparecimentos e encontros. A artista nos lembra que a casa é um território temporal, desde sempre já passado, submerso, perdido, e também futuro, à espera.


A ampla experiência da artista no cinema modela as obras apresentadas. Ana afirma uma poética da montagem: tudo aqui é compósito, dependente de relações entre os elementos das séries entre si, exigindo leituras atentas, ativas, imaginativas. O filme Arpoador se desdobra numa série de imagens intitulada Os corpos e o tempo, em que a vela de um barco se repete em ondulações, deixando-se agitar pelo vento mais intenso. A baleia branca, sempre inapreensível, pressiona a foto da mãe, as mãos e a voz do pai, as chamas de uma vela, uma flor em oferenda. Para Ana, paisagem é ato de distanciamento e despedida, que ao realizar-se afirma um movimento vigoroso de afirmação da vida.


Em Termodielétrico, filme em processo e instalação, os arquivos do avô, pioneiro da física experimental, são transferidos do campo da ciência ao da arte e creio mesmo que estes arquivos esperavam ansiosamente a chegada da neta artista, dedicada a consigná-los em outros suportes e liberá-los da autoridade única da ciência. Ao lidar com os arquivos de Joaquim da Costa Ribeiro, Ana traz à tona fricções entre sua história familiar e a história da ciência no Brasil, produzindo delicados abalos que fazem convergir dois campos de vocação experimental – a arte e a ciência. E se Termodielétrico diz respeito a condução de correntes elétricas, nada mais coerente do que as experiências propostas por Ana na arte, campo onde ocorrem as trocas simbólicas mais generosas, de onde surge a energia com a qual construímos sentidos para a vida, o que acontece aqui e agora, nesta exposição, sob os nossos olhos.


Leila Danziger

Janeiro, 2018

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