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pela manhã
em minha porta
sobre o carpete de entrada
no caderno Mundo
do jornal  
    
–  o dia trágico e nublado
            de Carlo


o manifestante
nascido em 1978
o carabineiro
nascido em 1980
não deveriam se encontrar
em dois disparos
e no corpo-
imagem
caído à minha porta
pela manhã
do dia seguinte
a 20 de julho
ano 26
do assassinato
de Pasolini

 

naquela sexta-feira
de verão
Carlo
deveria ter ido à praia
não estivesse o dia
nublado
não estivessem
oito dirigentes
do mundo
em Gênova

 

e é ainda preciso responder
à sombra
daquela manhã
projetada no carpete de entrada
em minha porta
por um policial armado
um manifestante desarmado
reunidos na imagem intolerável  
– esta –
do filho do sindicalista
Giuliano Giuliani

 

que assim não leria
o poema inaugural
do século vinte e um
não veria os que saltaram
das torres em chamas
poucos meses
depois daquele 20 de julho
nublado
serem fisgados  
pela poesia
de Wislawa Symborska

 

e continuarem
ainda
agora
suspensos
salvos
por instantes
nos domínios
da palavra
da imagem
    e do ar
na esfera de lugares
que acabam de se abrir

imagem 1
21 de julho de 2001 [2015]
impressão jato de tinta montada sobre PVC e fitas adesivas com resíduos de jornal
25 x 40 cm

imagem 2
Carlo Giuliano [2006]
serigrafia, óleo de linhaça e intervençào manual sobre papel hahnemühle
20 x 30 cm

imagem 3
Série Diários públicos/ para Carlo [2001]
carimbo sobre jornal apagado
54 x 32 cm

Publicado em Concinnitas, Revista do Instituto de Artes da UERJ, v. 2, n. 29 (17), junho de 2017.

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